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segunda-feira, 23 de outubro de 2017

É o que me sobra agora,
A realidade da dor dos ossos,
O tempo a cavar o solo,
Os delírios pós morte,
O tudo que eu desejava manter se desfazia,
A solidão que exigia preces,
Certamente uma mulher
A mística mulher dos sonhos,
A cercear a liberdade dos homens à morte
Um delírio a desenhar sua imagem,
É cântico do amor eterno, tudo em ti me comove
O beijo alongado da boca à alma,
Tudo que me rodopia e me salga o sangue,
O marfim das unhas postas na carne a buscar as veias,
A constelação, as estrelas que queimam a raiz das vontades,
Os pés que nunca partem, a seda, a gruta funda das sedes
Duas secretas luas, de única face, a iluminar as trevas
O mais que arde é a eternidade alojada no cio do peito
  

Charles Burck



Numa folha branca sem nada escrito estava a desmemoriada poesia postada,
Por certo alguns olhos não humanos poderão ler cada palavra
O ar que eu respiro não se sente, um mar sem ninguém,
As ondas brancas de antigos apegos, são textos que eu nunca esqueço,
O sexto sentido adicionado, metade de minha alma é feita de poesia
A outra parte, sempre parte antes da hora,
Não sabe de adeuses, teme a o que sente
Se escrevo,
Ela tudo apaga,
Não deseja saber de nada o que eu penso,
Ou me esqueço

 Charles Burck

 
virginia bocaer
É sempre novo o sentido da existência a cada onde que chega,
Numa outra varanda tão distante de mim, há um setembro que marcando um texto,
Em mil estátuas de corais azuis e hortênsias de Matisse pintadas na parede da sala,
A manhã toda acordada me chama e me diz,
Aqui houve roseiras, mas não rosas,
Foram mortas antes da hora, como se as esperas não houvesse trazido ninguém,
Pareço uma cor prolongada,
A eternidade das coisas sagradas,
A juventude escapada para além de mim



Charles Burck 

Ao virar a esquina
Sorrio, a alma lavada
Avisto o Tejo,
Então me sinto em casa


Charles Burck 


Que fazes tu, poeta? Diz!
— Escrevo.
Mas o amor é duro e mortal ao que não cabe mais,
—Escrevo
E como o suportas o entardecer longe dela?
— Escrevo
E se os olhos dela jamais neste mundo houvessem sido criados?
—Escreveria
E o que não te sobrasses mais, do tanto que tivestes, ou se nada houvesse de verdadeiramente teu? Ou ainda se nunca houvesse existido ela?
Inventaria.


Charles Burck 

E assim ficou o dito pelo não dito
Algo transcrito de alguma coisa errônea,
De alguma indisposição momentânea,
De algum injusto mal entendido,
Se eu não soubesse ser tu,
Acharia ser um estranho qualquer,
Mas se sinto o que sinto, perdoe-me
Pois de algo que não se percebe, veio um perfume dos bons
Cheiro de flor de laranjeira, sementeira de ciúmes, e alguma essência que eu desconheço
Mas tua

Charles Burck



Naquela passagem sem volta
Onde a ilusão tirou o chão,
Ele precisava de realidade para continuar a viver,
E no abstrato momento, o que lhe restava
Se não palmilhar centímetro a centímetro, o caminho


Charles Burck

sábado, 21 de outubro de 2017

Era um sorriso branco,
Definida a cor o que importava era mensurar o quanto ele dominava o mundo
È com felicidade que eu penso nela
Que pegou o fio embaraçado do meu coração
E depois partiu,
Mas nunca soltou a ponta
O paraíso eu sei que existe é bem ali perto dos olhos dela,
A santificada febre que nunca me deixou em paz,
Há um a manual explicativo de como se vive após a morte do amor?
Insetos não atacam as flores, dizia-me ela,
É uma forma de amor, o perfume sai dos poros, a transpiração é uma formula da secreção sexual,
Enquanto dialogamos sobre elas,
Estou drogados e débeis, no escuro da minha memória
Há ainda os jardins, um sorriso branco que ainda me engole
Ainda estendo a mão vacilante para tocar o teu ar
Foi um pequeno crime, não de morte, pois ainda sigo vivo,
Mas de me tomar a liberdade, de me segurar pela ponta do fio,
De manipular de longe,
De chamar o meu nome, assim mesmo como fazíamos telefones de caixa de fósforos e barbantes



Charles Burck 
Jack Vettriano

É o que me sobra agora,
A realidade da dor dos ossos,
O tempo a cavar o solo,
Os delírios pós morte,
O tudo que eu desejava manter se desfazia,
A solidão que exigia preces,
Certamente uma mulher
A mística mulher dos sonhos,
A cercear a liberdade dos homens à morte
Um delírio a desenhar sua imagem,
É cântico do amor eterno, tudo em ti me comove
O beijo alongado da boca à alma,
Tudo que me rodopia e me salga o sangue,
O marfim das unhas postas na carne a buscar as veias,
A constelação, as estrelas que queimam a raiz das vontades,
Os pés que nunca partem, a seda, a gruta funda das sedes
Duas secretas luas, de única face, a iluminar as trevas
O mais que arde é a eternidade alojada no cio do peito
  


Charles Burck 
pramod-mohanty

Daí-me a pureza dos versos pudicos sob as cobertas que nos agasalha,
E o encantamento que gargalha ao que toca os teus pelos púbicos,
E eu me embriagarei de novo como o jovem que faz amor pela primeira vez,
Que toma o primeiro porre e morre de amor cada vez que deita ao teu lado
E me encantei outra vez ao mergulhar a cabeça na noite,
E experimentar o liquida do cardápio divino que alimenta a minha boca,
E direi que cada pedra é flor e tocarei a folha viva, como algo que ainda sem nome vem me dizer ser o teu perfume,
E namorarei os teus ombros com a gravidade dos que sorrir apaixonados
Na canção que vibra em cada deslizar da minha pele sobre a tua pele,
E sei que mais viverei aos desejos de te ter outras tantas vezes,
Do lúdico dos seios que arrepiados manifestam o desejo de serem tocados
E os beijos que revoam o quarto como aves pulsantes, canoras formas de manifestação do quanto o amor cabe em todas as asas que existem
O instinto da noite pernoitará os teus braços, como laços a nos ligar sem prender, a navegar as ondas dos céus,
O corpo a inflamar languidamente sob as minhas mãos cintilantes,
Tanto no tato da alegria, quanto nos adornar da falta de pudor,
A mulher nua transportada no espírito do pão, do vinho, do sal,
Do chão encarnado da resina da terra, do azul escancarado das janelas do quarto,
O debruçar sobre os batentes onde para o tempo ao mirar os teus olhos,
Minha mulher, flor de todas as flores criadas, floridas, exaladas,
Por todos os dias da minha extasiada vida, jamais ouvirás um ai, de todas as flechas lançadas sobre o meu dorso,
Mas todas as canções farei como musicas brotadas de cada hálito do tempo que regressa ao ventre
A loucura dos sentidos a definir a música, a carne que chameja vida, porque é de ti que me vem o fogo, o roçar na pele do divino,
O sono, senhor dos sonhos, o amor que não adormece para cuidar de nós

Charles Burck




sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Então entendi que nada me esperava,
Decidi caminhar...
Ontem depois de ti, amanheci saudades,
Quero caminhar até a praia mais distante,
E levarei o meu coração sincero e franco

E o depositarei ao mar
Que isso me sirva como catarse certa e genuína,
Era próprio de ti sorrir do outro lado do vidro
Era tácito não termos receios

Onde nada tivesse dois sentidos,
Quando ainda a pegava ao colo,
A procura a ultima via láctea
Onde pudéssemos repousar sem medo



Charles Burck 
Tudo era mais do que pó,
O corpo germinava mais no outono
Como um bando de folhas pregadas num troco
Quantas vezes eu terei que viver formatado?
Se um pássaro canta no meio da noite;
Pode parecer estranho que não durma ao que chega o crepúsculo,
Mas há pássaros estranhos que não se sujeitam às estações,
Qual o teu nome agora quando voas,
Os olhos são, mas com o brilho dos loucos
Dizendo-me vou logo ali,
Mas voas tão longe...


Charles Burck 
E a morte deu pêsames como os olhos lânguidos de saudades,
Há coisas que, muitas vezes, aguentamos porque mais vale calarmo-nos
A cabeça pende para o lado, o cansaço nos toma,
Precisamos tatear na escuridão, em busca de nós, da nossa melhor parte que se afasta lentamente
Mas precisamos entender a noite e enfrentarmos todas as farsas da luz fraca
Já investi tanto tempo em mim, que agora não tem volta
Filas e filas de olhos amorfos, rostos de quem só tem fome ao que roncam os estômagos,
Mas a fome me afronta e eu não proponho silêncios
Quero mas os gritos, não quero viver do que me alimenta, mas do que me devora
Quem sabe sejamos os bárbaros, no meio da horda, de gente comum,

Charles Burck







segunda-feira, 16 de outubro de 2017

"Apesar de ferido ainda me ombreio com a dor,
Deixaria neste livro, escrita toda a minha alma.
Passagens, paisagens, horas vivas,
Os livros me enchem a vida de ocupação,
E absorvem qualquer dor em mim contida
Sopram como os ventos, para longe as tristezas,
Enchem-me as mãos de flores e estrelas
e lentamente passam-se as horas!
Que amargura tão funda há de mirar as páginas?
O que dirá o coração ocupado da leitura?
Das penas que passam e das dores que alçam voos
Como a ave que se lança ao espaço
Ver passar os espectros de vidas antes aos olhos que os miram
Ver despida a amada, em asas que sintetizam o que somos
Síntese do mundo os braços que laçam nossos corpos em sonhos
Livro de poemas, de passados mortos
De outonos vindos, em versos e folhas que caem
A primavera e verão em luz e flores que nascem no peito
Estranhas distâncias do frio do inverno
O poeta não explica sua grandeza em palavras
O Deus compreende tudo o que é incompreensível,
ao mundo
Aos que odeiam e não sabem do valor do amor
Nem da chama que arde agora em nós dois
Das coisas impossíveis que superamos
Das noites escuras que fizemos brotar nos céus, estrelas
Dos versos, em rosas lavando o sangue
Dos que matam os poetas e os violentam os puros
Das tardes que choram cingindo os fantasmas de quem
Violou a menina, a flor e o poema
Isso é vida, expurgando a ânsia,
esperando o que leva nossa casa ao fluxo do universo
Aos astros que passam pelo silêncio do mundo
escrevendo no céu em estrofes douradas
Os sentidos de minha alma
A do poeta que sangra
E chora ao que lê."
Saudade é exigência da alma
Li a tua pele, a ausência pedia mais,
Queria as substâncias de dentro, das entranhas,
O que só suaviza se alimentada
Ainda assim dói muito.
Quando digo que não há nada a dizer, ainda me falta tanto
Quero mastigar as palavras para cessar o desapontamento
Mas a dor é indigesta, egoísta e narcisista, admira-se no espelho que somos,
E ri da sua pérfida figura e rasga os papeis de versos e a ferir quem tenta escrever
Olhando por esse lado a saudade é brandura, traz-me a melhor parte do que não pode ser
Maltrata sim, mas pensa que cura, é a ilusão pura da dor de tudo o que queremos ter


Charles Burck