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domingo, 24 de setembro de 2017

O causo do amor morrido


Vou dando lambidas nos ossos dos outros, um dia a faxina termina bem,
O visgo de jaca pegou o pé da viuvinha, a bichinha se empoleirou no lugar errado, deu trabalho danado para ser retirada,
 A descabida tem a vontade nas áreas fogosas, é brasas de fogueira viva, chispa fagulhas e lança faíscas.
O dom do desejo é febre a
trevida, sai da pele e toma o outro, corpo e alma como dono, eu não me atrevo a soprar,
Sabe o quanto sobrou de nós depois do amor queimado?
Cinzas, tantas vezes sopradas, para vermos se ainda havia alguma brasa ativa,
Eu gostava dela, sim gostava, não desatino, não minto que não gostava,
O amor matado ainda fede no meio da estrada, corpo sangrado, cadáver perpétuo, peito aberto aos corvos da hora, festa dos abutres que agouram
a felicidade alheia,
O amor exposto sem destino e sem sina, o menino que empina pipa o pisa sem dó
As intempéries o atiçam com raios e coriscos, mas coitado abandonado pela sorte tem morte morrida de fato, assinada pelo necrotério e noticiada na radio,
Só faltou o enterro,
Mas eu gostava dela, gosta sim da assassina,
É raro encontrar alguém que tem olhos de céu e vê além das nuvens,
Eu a alimentava para mundo de coisas boas, a quem presenteia a vida com a sua presença,
Que se sentava no meio do nada para me contar segredos,
Trocar ideias, que me abraçava sem pressas, sem motivo algum,
O parco de azul que há na cidade, ainda é dos olhos dela,
Mas ninguém dá mais bola para os elementos, estão todos vivendo sem perceber que estão sendo engolidos por suas incapacidades de se abstrair,
Mas há ar atravessado, boi que foge da boiada, há sinas plantadas antes de vir,
Ocultando-nos de nós mesmos, nos roubando a  percepção de reparar nos detalhes.
Acho que com o nossa amor foi assim, foi aos poucos, perdendo o viço, padecendo de amarelão
Somos todos partes de coisas perdidas
Sim, eu gostava dela e até ela deixar de gostar de mim

Charles burck

 
Roman Velichko

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