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sexta-feira, 14 de julho de 2017

E assim quando em algum tempo de alguma outra dimensão eu pensar que existo, haverei de ressuscita-la então,
Ao sopro da lembrança de algum visível retrato,
Ou ao espaço de um outdoor na beira da estrada,
E haverei de lembrar como riamos dos acasos,
Dos dias mais chegados aos domingos,
Ou quem sabe apareça alguém com os olhos espetados no futuro como os teus, que me chamem a atenção.
Olhos que admiravam os bichos e as alamedas do zoo,
Ou ao que eu chore por algum comovente latir de um cão,
Das noites reviradas sobre os lençóis da minha cama,
Ao que certo perfume me chegue de um dia desfeito em nadas,
Ressuscita-me também ao compromisso que me trouxe de volta
Aos rejeitar o ócio pelo ócio, se os bons ócios eram os nossos
Os de fazer poemas das formigas carregando açúcar, da bunda gorda da Domitila estendendo as roupas,
Da calça frouxa do João do mercado, das vezes que cantávamos Pink Floyd de trás para frente
Aos que púnhamos o amor de lado para aprender a atravessar os tempos sem nós,
Mas os exercícios falharam, faz um bocado de tempo que ando só,
A chutar latas de refrigerantes nas calcadas dos dias quebrados,
A ver futebol sem saber os times que jogam
Não quero passar a vida recolhendo cacos de lembranças combinadas
Remendos de casos e relações vazias, não quero contar os dias aos bocados,
E fingir atenção ao sorrir de outras mulheres,
Não quero mendigar os afetos que nos enchiam de vidas,
Ligue os seus canais de buscas, as suas sintonias de procuras,
O amor pode ser mudo, mas não cego nem surdo, 
Alguém sentado sobre os óculos, ou fazendo do livro travesseiro,
Se ligue em alguém falando sozinho,
Talvez este seja eu recitando os poemas que fizemos para nós em alguma dimensão do passado, dos bons tempos que eramos nós

Charles Burck



 Sırada-Marek Brzozowski

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